Todo arteterapeuta é psicólogo?
Atualizado: 19 de mar.
Muitas pessoas chegam com essa dúvida na procura por arteterapia.
A resposta é não. A formação em arteterapia consiste em uma pós graduação lato-sensus que tem como única exigência a conclusão de algum curso de graduação. Assim uma pessoa formada em qualquer área pode se tornar arteterapeuta e ter o seu registro. A nível burocrático está é a resposta, mas vamos explorar um pouquinho mais. Inclusive, se você fizer essa pergunta para diversos profissionais, receberá diversas respostas, assim, o que exponho aqui é o meu olhar como profissional atuante a seis anos na área.
Essa é uma temática que acredito ser bastante polêmica, pois como no Brasil falamos em arteterapias, ou seja, não há uma vertente clara e única, não há uma resposta comum. Se pensarmos na própria psicologia, existe uma definição da profissão como aquele que estuda e cuida da psique humana, mas também podemos falar de psicologias. Há diferentes escolas que possuem visões muito diferentes.
Então, o que percebemos é que é muito difícil tratar de maneira totalmente objetiva esse tema. A psique passa pelo subjetivo e assim diferentes visões vão sendo possível, sem a ver uma resposta final, como a ciência busca.
Na minha visão, um psicólogo que se torna arteterapeuta tem um caminho mais simples a percorrer, pois a arteterapia vai entrar como ampliação de seu trabalho. Ele já passou anos estudando a psique humana e definindo seus caminhos e a arteterapia será um caminho novo, muito mais relacionado a como usar essa ferramenta para trabalhar as questões que já se apresentam em sua prática.
Já um profissional de outra área que busca se tornar arteterapeuta tem uma jornada um pouco mais árdua. Será preciso estudar a psique humana do zero, começar a traçar um caminho que o estudante de psicologia fez durante cinco anos em sua formação. Vai demandar muito mais estudo e entrega, muito auto-trabalho, muita terapia, supervisão, estágio, trabalho voluntário… o que for possível para ir adquirindo a bagagem que, digamos, lhe falta.
Sendo assim, acredito ser de extrema importância a escolha de uma linha terapêutica clara, de uma escola de psicologia que será sua base, pois na faculdade o estudante conhece um pouco de tudo, para depois ir se definindo. Já nesse outro caso, é necessário uma melhor definição e aprofundamento pessoal. Esse ponto é bastante importante, porque há muitos cursos de arteterapia que não possuem uma linha única, diversos autores e métodos são apresentados e nenhum aprofundado. Isso torna a atuação do arteterapeuta perigosa, pois pode não ter recurso para dar conta do que emerge em um processo terapêutico.
Muitos arteterapeutas acabam tendo recurso para oficinas e vivências pontuais, mas não para um trabalho contínuo e isso até acaba abrindo mais espaço para essa discussão de se o arteterapeuta pode ou não realizar um trabalho terapêutico aprofundado.
Eu acredito que vivemos em um tempo que cada vez precisamos nos responsabilizar por nossas práticas e escolhas e não terceirizar. Nenhum curso vai nos dar tudo que precisamos, uma pessoa pode ter uma linha extensa de formações, mas não ter a capacidade de se conectar verdadeiramente com o outro. Acho que o mais importante é o compromisso que cada um tem com sua formação, sua ética e sua verdadeira vontade de se preparar para a carreira que escolhe.
Carl Gustav Jung chama esse profissional de médico da alma. Será que são cinco anos de aulas e estágios que nos forma para entrar em contato com a alma?
É um questionamento importante a ser feito. Entendo que cada pessoa precisa ter ética e calma para traçar o seu caminho, sabendo do que suas escolhas implicam e ilustro essa opinião com a minha história pessoal.
A minha formação na graduação foi em comunicação social. Desde o segundo ano da faculdade eu sabia que aquilo não me faria feliz e tinha intenção de migrar para a psicologia. Por questões pessoais, decidi terminar meu curso e só depois iniciar a nova formação. Como cursei USP, tive a oportunidade de fazer as matérias optativas dentro do Instituto de Psicologia. Cursei quatro matérias da minha graduação em psicologia, uma delas foi a única matéria que a graduação disponibiliza de psicologia analítica, a linha junguiana. Ou seja, em cinco anos de estudo eu iria ter apenas aquele contato de seis meses com a linha que eu já havia entendido que queria trabalhar.
Por esse motivo, eu decidi não cursar a graduação e ir direto para uma pós graduação junguiana. Desde o meu primeiro contato com Jung, soube que era por ali que queria navegar. Isso me fez ter que correr bastante atrás, ler muito, estudar muito mesmo para compreender, para me especializar, olhar muito para mim, para minhas sombras, meus complexos e não parar nunca de estudar.
Foi uma formação que me fez perceber que eu nunca estaria de fato pronta e que o aprofundamento é constante, que nos autoconhecer é o grande caminho.
Se eu tivesse feito outra escolha, sei que seria um caminho mais seguro. Sei que tem muitas portas que seriam facilmente abertas, que hoje estão um pouco mais emperradas, sei que ocuparia um outro lugar perante a sociedade. Poderia estar em diversos espaços públicos e coletivos, por exemplo, que apenas a formação arteterapêutica não me permite.
Mas será que eu seria uma melhor profissional? Será que cada hora que passo com cada pessoa que atendo hoje seria mais produtiva, mais proveitosa, mais profunda?
Essa é uma resposta que não tenho e o que posso fazer é seguir me desenvolvendo, seguir entrando em contato com minhas questões internas e claro, estudando. Hoje curso pós-graduação em psicossomática e acredito que isso venha a contribuir muito, pois é um olhar também para nosso mundo orgânico, para o corpo físico. Então, acredito que o caminho seja por aí, ir descobrindo o que nos falta, onde podemos melhorar. Ter calma e humildade para traçar nossa jornada.
Olá Valéria,
grata pela contribuição, o diálogo é sempre importante em qualquer profissão.
A intenção primeira do texto é esclarecer para quem procura arteterapia que o arteterapeuta pode não ser um psicólogo, muitos serão, mas outros não. Pois muitas pessoas chegam pressupondo que somos, então senti a necessidade de ter um esclarecimento.
Até relendo o texto a partir de sua pontuação, sinto que realmente talvez o primeiro parágrafo possa até ser mais claro, pois pelo seu retorno me parece que essa resposta não está clara.
Com certeza não se compara a quantidade de informação das formações, mas num espaço de cura/acolhimento/cuidado/saúde tenho dúvida se é a quantidade de informação o mais importante.
De forma alguma acredito que seja uma profissão…
Oi querida. Gostei muito do seu POST . Que bom que és estudiosa. Mas arte terapeuta não é psicólogo, assim como auxiliar de dentista não é dentista. Realmente tempo de estudo não diz como será o desempenho de qualquer profissional. Aceito a realidade do que fazem em relação a saúde mental mas não concordo. Acabei de ser abordada por uma pessoa que estava percebendo que seu tratamento com a arte terapeuia não estava indo bem, precisou de um psicólogo para lhe apresentar uma de nossas teorias para poder falar com a arte terapeuta e então a mesma propos mudar o tratamento da sua cliente. Aqui no Brasil poucos são os que gostam de ler. Lembrando que em uma pós gradua…