As Cores na Arteterapia Junguiana
Escolhi como tema de hoje falar sobre as cores e um pouco de sua abordagem na arteterapia junguiana. Tema tão simples e tão complexo ao mesmo tempo. O que vem a sua cabeça quando você pensa “cores”? O que você sente? Se for alguém que trabalhe com estética, possivelmente, pensará em seu aspecto técnico, conceitual. Já um artista talvez caminhe pelas sensações que cada cor lhe provoca e outros podem só lembrar como algo distante da infância, como se as cores não coubessem no mundo adulto.
Existem diversos estudos relevantes sobre cor, principalmente pensando-as como espectro de luz. Dizem que ela não está lá nos objetos como imaginávamos, mas no nosso olhar. A cor não é, portanto, material. Ela nasce das sensações provocadas por ondas magnéticas. É no nosso interior, na leitura de nossas células cerebrais que elas se formam. Sendo assim, possui sua correspondente em notas musicais e em frequências vibratórias, por esse motivo, os chackras também possuem cores como referência.
Se falarmos em cores, falamos então em sensações e poderíamos criar aqui, como alguns autores, uma espécie de mapa que define o que cada cor provoca em nós. Há trabalhos muito interessantes nesse sentido, pois as estruturas celulares responsáveis por essa diferenciação são comuns ao ser humano. Podemos dizer que o azul é introspectivo, conduz o ser ao divino, a sua parte mais profunda, carrega certa melancolia. Já o verde seria um ponto de equilíbrio, estado de espírito de satisfação e plenitude. A cor da cura, representativa do corpo.
Dessa mesma maneira, poderíamos seguir com todas elas. Para quem se interessa nesse tipo de estudo, indico a leitura da obra “O Espiritual na Arte de Wassily Kandinsky”, em que é feito um lindo trabalho nesse sentido. Mas o que quero trazer aqui é pensarmos além destas definições.
Na arteterapia junguiana, é comum que transitemos por esse tipo de estudo, pois existe uma camada, conhecida como inconsciente coletivo, que é comum a toda a humanidade. E as definições de cada cor nos ajudam a entender algo do humano, a perceber essa camada que pode estar dizendo a todos nós. Outro ponto importante, é perceber que as cores trabalham diretamente com nosso inconsciente, pois estamos falando de sensações, de vibração, do inominável.
Para além deste caráter universal que elas revelam, em arteterapia, precisamos estar atentos e abertos ao caráter subjetivo. Cada ser traduz suas sensações e emoções de uma maneira única, cada símbolo tem uma camada que é apenas pessoal. Por exemplo, o vermelho pode ser relacionado à raiva, a uma cor intensa para a maioria, mas para uma pessoa que teve uma perda de um parente que se vestia muito com esta cor, pode estar associada à tristeza. Há infinitas possibilidades de sentido que cada pessoa cria ao seu redor.
O olhar arteterapêutico não pode, então, reduzir a cor que o paciente escolhe para expressar seu inconsciente em um conceito. O interior de cada ser humano não é definível, é um mundo completo e cheio de associações referentes a sua própria história. Ao trabalharmos com a arte em setting terapêutico, precisamos sempre permitir que o sujeito conte sua história, que traga seus próprios símbolos. O papel do arteterapeuta é ajudar a conhecer o inconsciente, a conversar com sua arte.
Esses conceitos podem, sim, ser guias, ampliadores do nosso olhar para permitir novos caminhos quando o sujeito não compreende o que foi manifesto. No sentido de indagar: “Será que esta cor nos leva para cá? Será que este vermelho está nos dizendo sobre a raiva?” Mas nunca afirmar e sim, permitir que o sujeito responda, que ele olhe para dentro e busque esta resposta. Se assim não for, novamente estamos nos reduzindo a teorias.
O setting arteterapêutico é para tirarmos os rótulos,
para nos aprofundarmos em nosso interior.
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