Todos somos criativos?
Atualizado: 15 de abr. de 2022
Em nossa cultura, somos levados a crer que existam as pessoas criativas, tão abençoados artistas e todos os demais, condenados à vida comum. Isso não é bem verdade. Jung, em seus estudos, nos conta que todos somos potencialmente criativos. A criatividade não é um atributo dos escolhidos, ela está disponível para todos como atributo básico do ser humano. Energeticamente, podemos pensar criatividade como vitalidade. Está ligada à energia sexual, ao chackra base, aquilo que temos de mais primitivo.
Se não fossemos criativos, não teríamos sobrevivido como espécie, não teríamos criado novas formas de viver e estaríamos hoje no ponto de evolução que estamos. Criatividade vem de criar, e assim, o ato da criação nos conecta da mesma maneira ao divino. Nos aproximamos dos deuses. Nos conectamos tanto com o pai céu quanto com a mãe terra. Assim, quando falamos de criatividade parecemos falar também de mistério, por ser tão básica e ao mesmo tempo tão divina.

Para Alexander Lowen, em seu estudo sobre bioenergética, nos conta que o ato criativo necessita apenas de dois elementos: paixão e inspiração. Por qual motivo será então que uns usam dessa fonte e outros não? Isso, possivelmente, tem muito mais a ver com a nossa educação do que com aptidões inatas. O quanto somos estimulados e incentivados a criar, a colocar nossa experiência no mundo nos leva a desenvolver mais ou menos essa potência. Afinal, será que temos vivido de forma apaixonada?
Ao olhar para uma criança ainda pequena é visível o elemento criativo. A forma como transformam os objetos em brinquedos, as histórias que contam, fantasias, as junções das palavras... Tudo é único, pois a criança naturalmente expressa sua interioridade no meio, ela cria, ela brinca a partir de seu interior. Ela está encantada com o mundo, com a vida, para esta nova realidade onde está inserida. Arquetipicamente a criança é a novidade. E assim, o que ela traz provoca um novo olhar para a vida, que somos compelidos a ler como criativo.
Porém, infelizmente, na maior parte das famílias, quanto mais a criança se diferencia e tem comportamentos incomuns, mais ela é tolhida. Pois somos criados em uma sociedade competitiva que não valoriza a espontaneidade, a diferença. Somos ensinados a nos comportar, a ouvir não, a se portar perante os demais e aos poucos a criança vai introjetando que aquilo que ela traz não é bem vindo. Aquilo que ela traz é comparado ao que a filha do vizinho trouxe e assim, a criatividade, a potência interior vai minguando.
Passamos a viver de forma menos inspirada e apaixonada. Passamos a entender a realidade como um campo onde as regras já estão postas, onde não há espaço para nossos sonhos e fantasias. A realidade vai ser tornando dura demais e vamos perdendo o tesão, criando tensões em vez de criar realidades. São poucos os que seguem se permitindo imaginar, criando e arriscando suas ideias e seus ideais. E assim, passamos a enxergá-los como únicos, deuses, diferente de nós. Na verdade, eles apenas não desistiram de viver sua potência, de sentirem tudo que a vida tem a oferecer.
E para onde essa reflexão pode nos levar? No meu ponto de vista, nos leva a lembrarmos que somos criativos. Lembrarmos que isso mora dentro de nós em algum lugarzinho, por mais que tenha sido bloqueado ou completamente esquecido. Que podemos recuperar a criatividade em nós e encontrarmos novas formas de viver, novas realidades possíveis. Que a paixão e inspiração que esteve em nós ainda existe e o prazer que sentimos uma vez ao criar pode ser sentido novamente.
É evidente que há diversos caminhos para isso. A arte é sempre um ótimo caminho para se reencontrar, seja de forma espontânea sozinho, seja em um curso, processo terapêutico ou onde sentir. A cozinha também pode nos levar a criar uma receita diferente e por aí vai. Os caminhos são vários, o importante é darmos o primeiro passo.
LOWEN, A. A Espiritualidade do corpo: bioenergética para beleza e harmonia. São Paulo: Summus, 2018. 198p.
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