O que é Persona?
Atualizado: 17 de jun. de 2021
Conceitos Junguianos
Neste texto, vamos explorar o conceito de persona dentro da Psicologia Analítica, de Carl Gustav Jung. A palavra persona tem como origem o termo phersu, do etrusco que significa “máscara teatral” e prósopon, do grego, referente à “máscara, face.” O termo era designado, de fato, para referir-se à máscara que o ator usava na peça e foi daí que Jung tirou a ideia. Pensando a vida humana como um palco teatral, em que cada indivíduo representa um papel, fica fácil começarmos a entender o conceito de persona.
A persona é, de maneira simples, a máscara que usamos em nosso meio social. A forma com que nos apresentamos ao mundo exterior. A vida é marcada pela adaptação social, somos seres gregários e assim, precisamos nos adaptar, isso faz parte da história humana. Assim, conforme a criança cresce, ela capta de forma inconsciente o que aquele meio espera dela. Quais as expectativas da mãe, do pai, professores e assim por diante. Ela vai percebendo que é bom agir de uma determinada maneira e ruim de outra e aos poucos, vai incorporando o que é bom, deixando guardado o que não é e criando esta imagem para o mundo. E conforme vamos crescendo e nos adaptando a diferentes situações, escola, empregos, grupos, essas máscaras vão se moldando e reformulando.
Um primeiro ponto importante para refletirmos é que esse desenvolvimento da máscara social se dá de forma natural, faz parte de nossos complexos, de nossa estrutura psíquica. Estamos inseridos em um meio e se não dialogamos com ele, não podemos nos desenvolver. Nossa estrutura interna, repleta de pensamentos, sentimentos, sensações e intuições é muito ampla para estar sempre presente. Ter uma proteção para trocarmos com o meio e não nos revelarmos inteiramente é positivo. Além disso, em nossas vidas interpretamos diferentes papéis. Somos filhos, netos, amigos, profissionais e por aí vai. Faz parte nos comportarmos de maneira diferente em diferentes contextos. Há várias partes dentro de nós e cada uma delas precisa de diferentes espaços.
Dessa maneira, podemos entender a persona como um complexo imprescindível à existência. Tanto em sua função de nos relacionarmos com o meio ambiente como a proteger nosso interior. É ela também que permite não manifestarmos toda a raiva ou desaprovação que sentimos por alguém. Para conseguirmos levar situações, talvez desagradáveis, da melhor forma possível. Porque isso faz também parte da vida. Não nos relacionamos apenas com pessoas que nos amamos, temos conflitos, temos incômodos e na sociedade dual em que vivemos vamos seguir tendo.
Claro que nesse ponto, somos levados a pensar: isso não nos torna, de certa maneira, falsos? Sim, e é aí que podemos perceber a parte patológica da persona, quando nos desequilibramos e essa máscara enrijece, cristaliza-se. Quando nos agarramos a ela, quando esquecemos que aquilo é só uma máscara que colocamos para interpretar nosso personagem social e passamos a achar que somos aquela máscara, a psique se unilateralizou. Identificou-se em demasia com o personagem que criou. Como a ilusão daquele cidadão de bem, positivo e honesto, sem pensamentos sombrios. Ou aquela boa menina, que atende a todas as necessidades das pessoas ao seu redor e é grata por isto. Quando isso acontece, a pessoa passa a acreditar que tudo que há de ruim e mal não faz mais parte dela e esses conteúdos são enterrados na sombra. Isso gerou um comportamento neurótico e dividido.
O ser deixa de ser completo, único, verdadeiro. Deixa de viver integralmente e a vida também vai aos poucos perdendo seu sentido. Pois ele passa a ser como uma marionete social: agradável, bem vista, mas nunca inteira. Seus sentimentos já não tem espaço, sua raiva ou dor. Dessa maneira, é impossível desenrolar-se um processo de individuação, tornar-se quem se é. Porque somos seres duais, temos luz e sombra, temos o mal e o bem dentro de nós e apenas aceitando todos os nossos aspectos, podemos evoluir e viver em paz, sendo nós mesmos.
Apenas a adaptação social não nos traz a plena felicidade. Pode compensar por um tempo, trazer riquezas e prestígios, mas quando estamos sozinhos a máscara não funciona, uma hora ela cai e então vemos nossas fragilidades e vulnerabilidades. Vemos que somos humanos, completos e não máscaras. Assim, é sempre importante refletir, será que estou apegado a minha máscara? Que papel eu tenho representado? Será que ele congelou e precisa dissolver? Será que preciso olhar verdadeiramente para os meus sentimentos? Para a minha sombra?
Nosso caminho de autoconhecimento ou individuação passa por esse reconhecimento. Passa por conferir se a imagem que se transmite e como se sente por dentro estão em ressonância e faz parte também não estar. Faz parte descobrir que somos mais do que imaginávamos, o importante é nos permitirmos, mergulharmos em nosso interior, conferir o que há lá dentro e aos poucos trazer para fora. De maneira cuidadosa e amorosa, respeitando nosso tempo e condição. Um processo terapêutico é sempre um bom caminho para não traçar esse caminho só. ;)
Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente.
Jiddu Krishnamurti
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